domingo, 22 de outubro de 2023

USO DO INFINITIVO CONJUGADO

O infinitivo conjugado é uma característica própria do português em que o infinitivo toma desinências de pessoa na 2ª pessoa do singular e em todas as do plural, mas na 2ª do plural já não é comum no português atual.

  • falar, falares, falar, falarmos, falardes, falarem
  • comer, comeres, comer, comermos, comerdes, comerem
  • partir, partires, partir, partirmos, partirdes, partirem.

É muito frequente o seu uso em construções impessoais com o verbo ser e um adjetivo, que sim permitem a presença do infinitivo conjugado.

    • PT. Foi bom chegarmos cedo, porque logo choveu muito.
    • ES. Fue bueno llegar | que llegamos pronto, porque enseguida llovió
    • PT. É melhor não o provocares.
    • ES. Es mejor que no lo provoques

Também com construções impessoais copulativas, mas precedidas de preposição:

    • PT. Já são horas de os miúdos irem para a cama.
    • ES. Ya es hora de que los niños se vayan a la cama
    • PT. Não era coisa de mudarem de ideia no derradeiro momento 
    • ES. No era cuestión de que cambiasen de idea en el último momento.
    • PT. Há muito tempo para lavarmos os pratos 
    • ES. Hay mucho tiempo para lavar | que lavemos los platos.

O maior uso do infinitivo conjugado acontece quando vem precedido de preposição, em cláusulas anexas:

    • PT. Apesar de seres tão inteligente, não entendo o teu comportamento.
    • ES. Apesar de que eres tan inteligente, no entiendo tu comportamiento.
    • PT. Antes de adormecermos, deverias comprovar que está tudo bem fechado.
    • ES. Antes de dormirnos, deberías comprobar que está todo bien cerrado.
    • PT. Comprámos a computadora para os miúdos fazerem os deveres da escola.
    • ES. Hemos comprado el ordenador a los niños para que hagan los deberes del colegio.

Com um verbo auxiliar não tem independência sintática, é como uma prolongação do infinitivo, portanto, formam uma unidade:

    • PT. Deves colocar as embalagens no contentor correspondente, mas não *deves colocares 
    • ES. Debes poner los envases en el contenedor correspondiente
    • PT. Temos que falar, e não *temos que falarmos
    • ES. Tenemos que hablar

Portanto, nas perífrases o sujeito é o mesmo nos dois verbos. O que não se pode fazer é usar o infinitivo conjugado quando o suxeito é o mesmo do verbo expressado anteriormente na forma conjugada.

    • PT. *Temos muito tempo para lavarmos os pratos (o sujeito de ambos os verbos é nós)

Mas se o sujeito for diferente, então não há problema, ou se for uma forma impessoal:

    • PT. Deixaram-nos muito espaço para nós estacionarmos o nosso carro. 
    • ES. Nos dejaron mucho espacio para que aparquemos nuestro coche.
    • PT. Convém seguirmos as normas literalmente. 
    • ES. Conviene que sigamos las normas literalmente.

USO DO FUTURO DE CONJUNTIVO

O futuro de conjuntivo continua a ser empregado con total normalidade en português. À diferença do pretérito imperfeito do conjuntivo, o futuro do conjuntivo indica futuro. Esta distinção parece evidente, mas uma parte do problema jaz precisamente aí.

Além disso, o futuro do conjuntivo, quanto às suas formas, é facilmente confundível com o infinitivo conjugado, pois nos verbos regulares é igual (lembre-se que a quinta forma já não é comum no português atual e é substituída pela sexta):
  • falar, falares, falar, falarmos, falardes, falarem
  • comer, comeres, comer, comermos, comerdes, comerem
  • partir, partires, partir, partirmos, partirdes, partirem
Porém, eis alguns casos de formas diferentes, onde só o segundo é o futuro de conjuntivo:
  • ter, teres, ter, termos, terdes, terem >< tiver, tiveres, tiver, tivermos, tiverdes, tiverem
  • vir, vires, vir, virmos, virdes, virem >< vier, vieres, vier, viermos, vierdes, vierem
  • ver, veres, ver, vermos, verdes, verem >< vir, vires, vir, virmos, virdes, virem
  • ser, seres, ser, sermos, serdes, serem >< for, fores, for, formos, fordes, forem
  • saber, saberes, saber, sabermos, saberdes, saberem >< souber, souberes, souber, soubermos, souberdes, souberem.
  • querer, quereres, querer, querermos, quererdes, quererem >< quiser, quiseres, quiser, quisermos, quiserdes, quiserem.
  • fazer, fazeres, fazer, fazermos,fazerdes, fazerem >< fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem 

Podemos sintetizar o uso do futuro do conjuntivo nestes casos:

1. Em cláusulas condicionais do tipo I ou II:
  • Se tiver tempo, iría dar um passeio.
  • Si tuviera|tuviese tiempo, iría a dar una vuelta
  • Se quiseres pão, vai comprá-lo
  • Si quieres pan, ve a comprarlo.
Neste caso usa-se apenas com o nexo se.

2. Em cláusulas de relativo com valor de hipótese
  • Quem tiver multas pendentes de pagamento será notificado pelo autarquia.
  • A quien tenga multas pendientes de pago, se lo notificará la alcaldía.
  • Quando terminares as tarefas, podes ir embora.
  • Cuando termines tus tareas, ya te puedes ir.

3. Em cláusulas temporais e modais que têm un certo valor condicional. De facto são uma variante das anteriores.
  • Podes vir quando quiseres 
  • Puedes venir cuando quieras
  • À medida que preencherem o questionário, podem abandonar a sala.
  • A medida que rellenen el cuestionario, pueden abandonar la sala
  • Assim que me paguem o ordenado, já te pago a dívida.
  • En cuanto me paguen el sueldo, te pago la deuda.
  • Faz como te disserem.
  • Haz como te digan.
  • Atue conforme lhe indicarmos.
  • Actúe según se le indica.
  • Depois que terminares de te vestir, vamos fora.
  • Después de que acabes de vestirte, vamos para fuera.
  • Enquanto não parar de chover, não poderemos sair.
  • Mientras no pare de llover, no podremos salir.
  • Sempre|desde que tiveres dúvidas, pergunta-me.
  • Siempre que tengas dudas, pregúntame.

CLÍTICOS DÓTICOS

Há alguns clíticos sem valor sintático, apenas pragmático, isto é, adicionam informação à frase. Chamam-se dóticos e existem dois tipos principais.

O primeiro é o dativo intensivo. Em espanhol existe, mas não em português.

Observem-se estes exemplos, onde o ES mostra um clítico que em PT não se utiliza:

    • PT. Ontem comprei uns sapatos
    • ES. Ayer me compré unos zapatos

    • PT. Ja leu todo o livro
    • ES. Ya se leyó todo el libro.
    • PT. Não tomem toda a cerveja. 
    • ES. No os toméis toda la cerveza.
Um verbo espanhol pode ser conjugado assim com um clítico (me compro, te compras, se compra, etc.), mas não há hipótese em português, simplesmente não é utilizado. Dessa maneira só se pode utilizar um verbo reflexivo (lavo-me, lavas-te, lava-se, etc.).

O segundo caso é o dativo ético, que sim existe em português e não se conjuga com o verbo:
    • PT. Choveu-nos todo o caminho.
    • ES. Nos llovió todo el camino.
    • PT. O motor do carro não te soa um bocadinho estranho?
    • ES. ¿El motor del coche no te suena algo raro?
    • PT. O pão não lhe fermenta muito bem.
    • ES. El pan no se le fermenta muy bien.
Observe-se, aliás, que no dativo intensivo é utilizada a forma reflexiva (se), enquanto no dativo ético é utilizada a forma não reflexiva (lhe(s)

FORMULAS DE AGRADECIMENTO

A fórmula de agradecimento mais comum é obrigado/a , porém existem outras mais formais:

    • PT. Grato/a pela explicação, também concorda com o género do utilizador
    • ES. Agradecido/a por la explicación.
    • PT. Bem hajas! (singular).
    • PT. Bem hajam! (plural).

obrigado/a

É a forma mais comum de agradecer em português, mas visto que se trata de um adjetivo, tem que concordar com o sexo da pessoa que o utilizar.

  • Obrigado pelo café (dito por um homem)
  • Obrigada pelo café (dito por uma mulher)
  • Obrigados pelo café (dito por apenas homens, ou por homes e mulheres)
  • Obrigadas pelo café (dito por mulheres)

SEGUNDA PESSOA DO PLURAL

Em PT a 2ª pessoa do plural é vocês, cuja equivalência em espanhol europeu é vosotros/as mas apenas ustedes no espanhol de América. 

Existe, aliás, uma forma de cortesia: os senhores e as senhoras.

É um pronome que recolhe formas de antigos pronomes, mas para a conjugação usa apenas a 3ª pessoa do plural:

    • PT. Vocês comem pão.
    • ES. Vosotros coméis pan | Ustedes comen pan

A forma precedida de preposição pode ser vós (convosco), mas também vocês:

    • PT. Não sei nada de vós | de vocês desde há muito tempo
    • ES. No sé nada de vosotros
    • ES. Ustedes desde hace mucho tiempo 
    • PT. Gostava de falar convosco | com vocês dessa questão
    • ES. Quería hablar con vosotros | ustedes de ese tema

O seu clítico em PT europeu é vos

    • PT. Já vos disse que hoje não quero sair de casa
    • ES. Ya os dije | les dije que hoy no quiero salir de casa

E o seu possessivo é vosso(s)/a(s)

    • PT. Vocês não venham cá com os vossos carros.
    • ES. Vosotros no vengáis con vuestros coches.
    • ES. Ustedes no vengan con sus autos.


apenas ~ mal ~ só

Estas três palavras portuguesas têm equivalência com duas espanholas.

1. - mal equivale por norma a apenas em espanhol.

  • Eles mal entendem o alemão.
  • Ellos apenas | casi no entienden alemán.
  • A nossa rua mal está asfaltada.
  • Nuestra calle apenas está asfaltada | casi no está asfaltada

2. - apenas nalguma altura equivale ao espanhol apenas, mas costuma equivaler a solo, solamente.

  • A Joana apenas sabe utilizar o computador do gabinete.
  • Juana solo sabe utilizar el ordenador de la oficina.

3.- equivale siempre a solo. De facto, e apenas são intercambiáveis:

  • Eu só|apenas tomo café de manhã.
  • Yo solo tomo café por la mañana.



amanhã ~ manhã

 Amanhã é o dia seguinte, enquanto manhã é a primeira parte do dia. Em ES usa-se apenas mañana.


    • PT. Amanhã tenho um exame. 
    • ES. Mañana tengo un examen.
    • PT. Esta manhã tenho um exame
    • ES. Esta mañana tengo un examen.
    • PT. Amanhã de manhã tenho um exame. 
    • ES. Mañana en/por la mañana tengo un examen.